Place des Vosges

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quarta-feira, 4 de abril de 2012

I will always love you

Era janeiro de 2005, duas amigas e eu viajávamos de carro pela BR-101, no Espírito Santo. Estávamos na estrada já fazia algum tempo, saímos de São Paulo de carro e queríamos viajar pelo litoral brasileiro. De onde surgiu e como foi essa viagem, bem, deixemos para um próximo post, vamos voltar para o Espírito Santo...
Pois bem, claro que não tínhamos estudado nada sobre o Estado, nossa única fonte de consulta era um guia que havíamos comprado em uma banca de jornal antes da viagem, um material de pesquisa rápida, bastante simples, mas já era alguma coisa. Em nosso guia maltrapilho (ok... eu gosto dele e o guardo até hoje!) só constavam duas cidades no ES: Regência e Itaúnas. Já haviamos tentado uma parada em Guarapari sem sucesso, partimos para o norte e seja o que Deus quiser.
Apesar de saber que já era noite e que teríamos uns 200km pela frente, a descrição do nosso destino era bastante atraente:
"Regência é uma vilinha que faz parte de Linhares, mas que nada parece pertencer a ela, pois para chegar é preciso percorrer 48km de estrada de terra (...)A sua principal atração turística são as ondas perfeitas que são formadas pelo encontro do Rio Doce com o mar (...) Rolam vários campeonatos, atraindo a galera do surf e trazendo maior movimento para a praia. Uma base da Petrobrás e o projeto Tamar também ficam lá".
(texto retirado do guia maltrapilho)
Era exatamente o que procurávamos! Éramos jovens, era verão, tínhamos um carro e a missão de chegar onde bem entendíamos ("sem passar de Salvador!" era o acordo). Óbvio que uma vila totalmente desconhecida, cheia de surfistas, jovens e tartarugas seria o lugar dos sonhos. Além de tudo é nessas horas que bate dentro de nós o sentimento de desbravadoras selvagens, as-mina-da-cidade chegando no vilarejo a 50km de uma outra cidade que nunca tínhamos ouvido falar a respeito. Era perfeito!
E agora vem a confidência, o motivo principal desse post, que pode abalar para sempre a minha amizade com as meninas: nós AMÁVAMOS viajar a noite. Tudo pelo simples fato de que as (poucas) estações de rádio tocavam trilhas sonoras românticas incluindo aqueles programas que vai traduzindo a música meio que de forma simultânea. Éramos nós e os caminhoneiros do Brasil passeando pela BR-101 cantarolando programação de love songs, que incluía Whitney Houston, A-ha, Take That, Guilherme Arantes e tudo o que tínhamos direito. Nem conversa rolava, era cantoria sem parar até perder o sinal da rádio. (Ah.. bons tempos em que não existia carro com MP3 nem iPod e derivados.)
E no meio dessas loucuras cantantes percebemos que a placa "Regência Augusta" estava próxima. Não tardou para que a entrada da estradinha de terra se aproximasse e com ela o aumento de nossas frequências cardíacas: estávamos chegando. Fizemos um intervalo no karaokê e começou o siricotico no carro: o que será que vai ter? quem estará lá? será que está rolando um luau?
Faltam 12... 11... 10km para chegar quando começou a tocar na rádio aquela música do filme O Guarda Costas da Whitney Houston. Aproveitamos que não tinha ninguém, que a estrada era sem iluminação, de terra e deserta, e colocamos o som bem alto! Em berros cantávamos desesperadas, como se o volume de nossas vozes tivessem que atingir São Paulo e acordar nossos pais, mostrando que contrariamos todas as regras de não viajar a noite. O vilarejo se aproximava e o fim da música não, fomos reduzindo a velocidade o máximo possível, pois seria inconcebível chegar na cidade dos surfistas, hippies e descolados ouvindo aquilo. A coisa foi ficando tão intensa, e a vila tão próxima, que um dado momento a Cris parou o carro, descemos todas sem cerimônia para no meio daquele lugar berberrar bravamente o auge da música "AND IIIIIIIIIII, WILL ALWAYS LOVE YOOOOOOOUUU".
Terminado nosso espetáculo sem público, entramos correndo no carro e bateu o remorso: a cidade estava a 2 km. Será que alguém ouviu? Colocamos rapidamente um CD do Nação Zumbi para entrar na cidade fazendo um tipo "jovens viajantes descoladas", mentiríamos até o final da estadia sobre a cantoria, caso alguém tivesse ouvido. Finalmente chegamos!!!!!!
Não tinha ninguém. É, simples assim... era uma vila tão vila que todos estavam dormindo, incluindo o pessoal do surf. Parecia uma cidade abandonada, aliás, se não tivéssemos viajado 240 km eu tenho certeza que desencanaríamos e partiríamos para outro lugar.
Enfim, só encontramos uma pousada, que também estava fechada e tivemos que acordar a proprietária para arranjar um lugar para dormir. Hoje eu penso que se tivéssemos continuado na estradinha de terra, cantando com aquela empogação que estávamos, pelo menos alguma alma viva acordaria para nos receber.
No dia seguinte descobrimos que sim, o pessoal dormia cedo, mas a cidade era muito mais do que imaginávamos, era um lugar incrível! Foi um marco especial, mas tão especial que virou meu TCC e da Cris na faculdade de turismo!

Surpresa! No fim da estadia eles fizeram um lual para nós!

Cris, nossa adorada orientadora Regina e eu. Nas pontas os integrantes da banca do TCC!

Vou ficando por aqui, qualquer hora faço relatos da viagem e revelo até onde nós chegamos. Sim, de Salvador não passamos, mas chegamos perto!
Beijos
OBS: mais de 2.000 visitas! Obrigada! I will always love you! (Rá)

2 comentários:

  1. Vida longa ao blog!
    Ja

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  2. Ah Man, fala sério... me emocionei a cada palavra, ri demais e agora choro um misto de saudade e alegria. Afinal vc sabe que pra mim essa viagem teve um significado ainda maior... hoje eu moro em terras capixabas, pertinho de Regência e, provavelmente é aqui que criarei raízes, família e o que mais Deus estiver reservando pra minha vida... Obrigada por ser tão importante pra mim, e acima de tudo, por deixar eu ser tão importante pra vc... I will always love you... eu vou sempre te amar... sempre... sempre e sempre.

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