Place des Vosges

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terça-feira, 16 de outubro de 2012

A Viagem (quase não ) Continua

Um semáforo fechado, três carros parados na esquerda e um na direita, três meninos na calçada, meu carro, correria, uma arma e um disparo. Foi assim que eu quase morri!
Dirigir em uma cidade violenta faz nos acostumarmos com certas limitações, como andar com o vidro fechado, evitar semáforos a noite, olharmos ao redor a cada segundo com ar de desconfiança e, no meu caso, que tão relutantemente evitei até ceder, um carro blindado. Com o tempo os limites se tornam rotina e os perigos existentes infelizmente tornam-se cotidianos: um sequestro aqui, um homicídio alí e sempre a esperança de que nada nunca aconteça com você.
Minha mãe foi vítima diversas vezes da violência da cidade, digamos que no currículo dela temos alguns sequestros relâmpago, meia dúzia de assalto a mão armada, furtos e diversos roubos de carro - as vezes com ela no local, as vezes não. Esse gene hereditário já se manifestou em mim de diversas formas, no meu caso foi um carro arrombado três vezes, dois assaltos a mão armada, dois furtos, uma pedra jogada no meu vidro com o carro em movimento e agora a minha última conquista do assalto a mão armada com disparo de arma de fogo.
Com toda essa expertise em situações perigosas, nesta manhã quando eu vi os três menores eu sabia que eu ia ser assaltada, eu sabia que eles viriam na minha direção, aquela velha sensação de "eu já ví esse filme antes". Criei coragem e me preparei para enfrentar a situação, respirei fundo, mantive a calma - calma aquela, ainda que mínima, que só um carro blindado pode te oferecer em uma hora dessas - e apliquei a tática de "mantenha essa droga de carro em movimento". Eles se aproximaram correndo, comecei a desviar vagarosamente do carro da frente e PAF! Um tiro!! Um zunido forte em meus ouvidos!!! Abri os olhos e vi que havia batido em um muro. O que aconteceu?
Foram alguns segundos para eu entender que, sim, a blindagem funciona, eu estava viva! Do meu lado esquerdo ele me encarava através das trincas do vidro baleado, os outros corriam para longe. Eles assustados do lado de lá, eu apavorada dentro do meu tanque de guerra. O atirador acabou fugindo com os outros, ao meu redor motoristas desesperados gritavam  para saber como eu estava, eu gritava dentro de mim para ter alguma reação, os testemunhas querendo fazer alguma coisa, mas apavorados o suficiente para não pisar fora de seus carros, fossem eles blindados ou não. 
Em minha memória ficará para sempre a cena da a bala vindo em minha direção, do barulho e a marca no vidro exatamente na direção da minha cabeça.  Infelizmente, nos olhos do meu assaltante menor de idade eu vi a prova de que o conceito de violência só existe para nós vítimas. Do lado dele trata-se apenas de um revolver, uma bala, um dedo, um gatilho e uma mira. Ele apertou sem titubear, simples assim!
Sei que há outras Carolinas, Marias, Ivones, Silvias, Fernandas e, também na ala masculina, Dirceus, Thiagos, Vitors e tantos outros casos que, por muitas vezes, podem ter um final mais trágico. A questão não é competir para ver quem passou pela pior situação, mas sim o fato de que coisas assim não são normais. Não é normal ser recepcionada com um tiro no caminho para o trabalho, quer o tiro acerte ou não, quer o carro nos proteja ou não! A unica coisa que consigo sentir é tristeza, como pudemos chegar a tal ponto?
Engraçado que no feriado de 12 de outubro enquanto eu via na televisão os devotos de Nossa Senhora Aparecida eu comentei com o Alê que eu queria ter um santo "para chamar de meu". Meu pedido foi uma ordem, três dias depois elegi a Santa Teresa de Ávila como minha protetora, santa do dia 15 de outubro, o dia em que eu renasci duas vezes - uma do disparo e outra da batida. Também vou carregar nesse meu renascimento a luz e energias positivas que as pessoas que gostam de mim me enviam todos os dias, as bençãos que recebi na Índia e toda forma de fé que evitaram o meu encontro precoce com a minha mãe onde quer que ela esteja.
Desejo sinceramente que ninguém passe pelo que eu passei, ou melhor, espero que a vida de vocês não os permitam vivenciar por qualquer forma de violência bruta e estúpida. Mais ainda, meu maior desejo é que encontrem uma solução para esse tipo de barbárie tão rotineira nessa cidade que eu amo tanto.
Enfim... foi um desabafo e graças a Deus como diz o próprio nome desse blog A (minha) Viagem (na terra) Continua! =)
Fiquem em paz!

4 comentários:

  1. Seu desejo foi uma ordem, rsrsrs. Mantenha sua santa dentro de voce com muita tranquilidade... ao sair convide-a. Ao ver meninos na calçada peça a Ela que cuide bem deles, e, agradeça por ela estar ali sempre te protegendo. Procure esquecer o episódio - foi um acaso, que já passou. Boas vibrações para esses meninos perdidos. Bjs.

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  2. Ah Man... tanta coisa que eu queria te dizer mas eu não consigo agora... só agradeço a Deus porque eu não saberia te perder... te amo!

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  3. Oração de Santa Teresa de àvila

    Nada te perturbe,
    Nada te espante.
    Tudo passa,
    Só Deus não muda.
    A paciência tudo alcança.
    Quem tem a Deus nada lhe falta,
    Só Deus basta.

    DEUS te protegeu e te protegerá sempre!
    Te AMO!!!

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  4. Força Ca,
    existem pessoas más no mundo, perto da gente a todo momento.
    Mas acredito que o bem sempre vencerá! E vc é uma prova viva disso!

    Que os anjos continuem a te proteger
    bjos

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